sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A Revolta dos Computadores



Desde os primórdios dos primeiros PCs até hoje, vai um longo e, muitas vezes, um tenebroso caminho. As primeiras máquinas nos anos 1940, ocupando salas inteiras, mas com uma capacidade um pouco maior do que uma calculadora científica dos dias atuais, até os dias de hoje, com os leptops, ipeds, iphones e similares, passando pela invenção da Internet em meados da década de 1960 nos EUA, deixa uma questão na mente do homem moderno: até que ponto ele, o homem, deixa de ser agente transformador e passa a ser meio transformado por essas inovações da vida moderna? Uma coisa é certa, o homem ao interagir com a máquina ou através das máquinas, seja com elas, seja com o seu próximo (cada vez mais distante) muda sua perspectiva global ou até mesmo local no tocante ao seu relacionamento interpessoal.

Até o começo da década de 1950, mas precisamente em 1951 começam a ser desenvolvidos conceitos mais elaborados surgindo pela primeira vez a idéia de sistema operacional, pois até então os computadores funcionavam muito mais como meros armazenadores de informações em linguagens cifradas, para uma possível decodificação rápida de acordo com as necessidades e cada máquina operava apenas para aquilo que ela foi programada. Tudo isso segue a passos lentos até meados da década de 1970, com o aparecimento dos transistores na década anterior e mais na frente, os circuitos integrados.

Inicialmente a idéia da Internet surgiu nos EUA para fim de comunicação militar durante a guerra fria, mas logo foi absorvida e utilizada nos meus acadêmicos daquele país, onde as universidades se comunicavam internamente, trocando idéias, informações e descobertas. Foi somente em 1990, que foi criado o World Wide Web, por um engenheiro inglês, o que fez com que a internet chegasse à população em geral. Daí pra cá as coisas andaram rápidas, e chegamos nos dias de hoje, em que não mais as máquinas, nem tão somente seus componentes internos ou seus sistemas operacionais fazem uma transformação revolucionária no meio em que vivemos, mas a sua popularização e mais do que isso a sua utilização como meio de comunicação entre as pessoas, utilizada como ferramenta de mobilização pessoal, política e, muitas vezes, revolucionárias, surpreendendo governos, ditaduras como expressão da força e até mesmo democracias como força de expressão, coniventes com a opressão de seu povo por partes de minorias incrustadas no ao poder ao longo de décadas.

Um dos primeiros exemplos desse novo tipo de “revolta dos farrapos” vimos nos Estados Unidos, que elegeram em 1998 o primeiro presidente negro daquele país. A eleição de Barack Hussein Obama Junior, foi e ainda é um exemplo de mobilização utilizando a Internet para fazer uma campanha política direcionada para essa fatia da população que vive, dorme, come e respira todos ou alguns elementos dessa nossa vida hi-tech moderna. Fatia essa que não é pequena, pois é raro encontrarmos hoje em dia alguém que não tenha algum aparelho de comunicação rápida. No Brasil com a estabilização da economia e com os programas de ascensão social dos governos Lula, principalmente, quase todos tiveram acesso ao mais popular desses elementos. Desde feirantes, passando por catadores de coleta seletiva e chegando aos mais altos níveis da cadeia social, todos têm seu celular, pelo menos.

Há algum tempo vemos falar de democratização da informática, mas recentemente é que vimos surgir, não aqui no Brasil, mas no norte da áfrica, chegando a alguns países islâmicos do oriente médio, não a democratização da informática como um fim, mas a informática como meio de democratização do poder local, ou a tentativa popular de derrubar ditaduras que há décadas se sustentam com o apoio, conivência ou simplesmente com a complacência das ditas democracias mundiais.

Não é de hoje que grande parte daquela população está insatisfeita com seus governantes e regimes políticos, mas só agora puderam expressar seu pensamento, pois tiveram em mãos as ferramentas que deram a possibilidade de juntar forças e idéias, driblando a censura e se desvencilhando da opressão vigente. Toda essa febre é contagiante (ou contagiosa), se espalhando por toda uma região rapidamente, ultrapassando fronteiras e se globalizando como seria natural, mas ao contrário do que se podia esperar, ela toma caminho contrário, pois é uma via de mão-dupla, saindo de uma dimensão territorial e voltando a uma dimensão local, do estado, da cidade e do bairro.

Claro que tudo isso (democratização da informação) só é um meio e como meio por si só não tem caráter, não é bom nem é mau, como qualquer coisa, caindo nas mãos erradas, ou utilizada de um modo inadequado, pode se virar contra a população.
Na comunicação social, aprendemos que não podemos culpar a janela pela paisagem. Desse modo, a Internet ou qualquer outro meio utilizado, pode ser usado pra o bem de todos ou para o bem de alguns. Recentemente vimos a utilização desse meio para fins, no mínimo, questionável. Pegando carona, na campanha vitoriosa de Obama nos EUA, alguns de nossos políticos locais viram na Internet e nas redes sociais, um modo fácil de atingir a grande massa da população através de meios escusos, criando fakes e atacando adversários abertamente através de perfis fictícios, se escondendo atrás da impessoalidade e segurança do sigilo forçado. Resultado disso foi a eleição de políticos populistas despreparados para a administração, mas que souberam utilizar a seu favor esse potencial revolucionário, uma vez que se relacionavam mais intimamente com esses meios e viram neles uma “arma” em potencial, para utilizar “contra” os seus oponentes. Agora os mesmos políticos vêem “o feitiço virar contra o feiticeiro”, numa prova que de certa forma, uma parcela da população que colocou esse político no poder, agora se mobiliza para tirar ele de lá através de mobilizações iniciadas e organizadas nas redes sociais.

Nossos governantes e políticos agora vão ter que aprender a fazer uma nova leitura, não mais da vontade das ruas, e sim das LANs HOUSEs, praças de alimentação dos shoppings, quartos, escritórios ou qualquer outro local que possa comportar um PC de mesa, um notebook, um celular...Claro que a possibilidade de interagir mais facilmente com outros e juntar, sob a égide da mesma idéia, uma grande massa rapidamente não politiza as pessoas, mas abre um leque de mobilização rápida e eficiente, informando sem grandes esforços os mais acomodados dos cidadãos. Prova disso, foi a divulgação nacional do discurso de uma professora do estado do Rio Grande do Norte, de sua revolta em relação ao seu baixo salário. Tal discurso virou uma bandeira nacional e a professora Amanda Gurgel, um tipo de Robin Hood do giz, dizendo de certa forma, o que a população em geral gostaria de dizer para os seus governantes e políticos. A revolta que em outros tempos, ligeiramente seria abafada ou esquecida, ganhou uma dimensão nacional, potencializada pela Internet primeiramente e não podendo ser calada pelos meios de comunicação, logo foi absorvida tendo como baliza o critério da audiência.

O que começou como uma máquina, mera armazenadora de informações, podemos dizer que hoje ganhou vida própria. Um caminho sem volta, apontando para um novo modo de pensarmos o mundo. Onde a tecnologia e a comunicação verdadeiramente de massa, revolucionam, mudam critérios e derrubam governos, indicando que até mesmo as guerras futuras caminham nessa direção, em que a informação será a munição do armamento futuro, em que o homem deixa de ser mero puxador de gatilho, mas ele mesmo passa a ser o gatilho.