sábado, 25 de junho de 2011

O Gigolô das Palavras (Crônica)

 


Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa mesma missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava seu gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com suas afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até preparando, às pressas, minha defesa ("Culpa da revisão! Culpa da revisão!"). Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente.
Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer "escrever claro" não é certo mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir, mover... Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com Gramática.) A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada, não tem futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.
Claro que eu não disse isso tudo para meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português. Mas - isso eu disse - vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão indispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que outros já fizeram com elas. Se bem que não tenho o mínimo escrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito.
Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria a sua patroa! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias pra saber quem é que manda.

(Luis Fernando Veríssimo)



[CRÔNICA RETIRADA DO LIVRO "MAIS COMÉDIAS PARA LER NA ESCOLA", Editora Objetiva, 2008]

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Os perigos da razão (Artigo)

Sabemos que nossas idéias são, de certa forma, uma característica que nos define, que diz coisas a respeito de nós mesmos. Tanto isso é verdade que gostamos muito de exibi-las para as pessoas que nos cercam. Nos orgulhamos das deduções que fomos capazes de fazer e nossa vaidade fica gratificada quando ouvimos elogios à nossa inteligência. Gostamos quando as pessoas concordam conosco e nos sentimos inseguros com as divergências.
Acredito que a intromissão dessas emoções - a vaidade e a insegurança - no nosso modo de ser e de pensar se dá desde a infância. As crianças percebem logo que são admiradas por suas observações originais. Ficam orgulhosas com isso e tratam de se exercitar nesta área que poderá ser sua principal forma de chamar a atenção. Além disso, pessoas inteligentes tendem a confiar cada vez mais em suas conclusões.
Tudo é faca de dois gumes. Ter uma boa inteligência, é, óbvio, uma grande vantagem. Porém, na medida em que a criança - e depois o adolescente e o adulto - vai confiando muito no seu cérebro, passa a não ficar muito atenta ao modo de pensar e às conclusões das outras pessoas. A partir daí as coisas se complicam bastante, pois vai se desenvolvendo uma atitude de crescente desprezo pelo que se ouve. Essas pessoas, que não sou poucas, ornam-se as "donas da verdade", incapazes de prestar atenção nos argumentos dos outros e apenas os ouvem para encontrar defeitos na sua argumentação.
Esse tipo de utilização da razão é prejudicial sob todos os pontos de vista. As pessoas que não trocam informações e formas de  pensar, além de se tornarem desagradáveis, vão se fechando em seus próprios raciocínios de uma maneira muito perigosa.
Se uma pessoa deixar de ter o espírito (alma) "poroso", permanentemente permeável às trocas com os outros, ela tendera pra um tipo de comportamento que tenho chamado de autismo intelectual. O termo autismo é usado para aqueles doentes mentais de certa gravidade, que não estabelecem elos emocionais com o meio em que vivem. O autista intelectual não está disposto a ouvir e a refletir sobre o que pensam os outros: além de querer fazer suas idéias prevalecer sempre. Tal agressividade denuncia que alguma coisa não vai tão bem no mundo íntimo dessas pessoas aparentemente tão fortes e auto-suficientes. A verdade é que são, com frequência, portadoras de grandes inseguranças e passaram a usar sua eventual competência intelectual para compensar suas fraquezas. Acabam numa situação bastante complicada, uma vez que essa eventual superioridade intelectual não irá jamais resolver seus sentimentos de inferioridade em outras áreas. Além do mais, acabam por fazer mau uso da sua razão. Não conseguem fazer outra coisa senão ficar patinando e derrapando em suas próprias idéias. E o pior é que, por falta de renovação, as idéias tornam-se obsoletas. São essas as criaturas que ficam velhas precocemente, pois o mais visível sinal de envelhecimento e exatamente a perda da elasticidade no processo de pensar sobre a vida. As pessoas que não trocam informações com os outros e se fecham em seus próprios raciocínios envelhecem cedo.

Natal Antes e Depois (Vídeos)

Um pequeno apanhado de fotos de lugares turísticos/históricos  comparando como eram e como estão atualmente. Tendo como pano de fundo dois clássicos do brega: "Surra de Amor" com Cassiano Costa e "Tenho Pena de Você" com José Orlando.

Paisagens (Fotos)

Estação Papary, Nísia Floresta, RN




Por do sol no parque da cidade, Natal, RN


 Árvore da Natal, em Natal
  Falésias????
 Falésias????
 Falésias????
 Falésias????




Por do sol, novamente




  Igrejinha, caminho pra Nísia Floresta (praia dos golfinhos)
 Casinha, 03

As Rosas Não Falam (Fotos)





















Curtas (Parque da Cidade)

Dias desses, fui ao parque da cidade fazer umas fotos da paisagem e do por do sol. Aos primeiros clicks fui interrompido por uma viatura dos guardas de lá me avisando, que fotos do local estavam proibidas. Fiquei pensando, se você achar alguma coisa bonita no parque da cidade em Natal, e quiser levar uma recordação, não pode levar sua imagem, o jeito é levar o objeto de sua admiração embaixo do braço ou nos bolsos. 
Parque da cidade, Natal/RN

Não quero acreditar que é mais uma genial ideia dessa administração atual, mas em todo caso está registrado meu repúdio.