Sabemos que nossas idéias são, de certa forma, uma característica que nos define, que diz coisas a respeito de nós mesmos. Tanto isso é verdade que gostamos muito de exibi-las para as pessoas que nos cercam. Nos orgulhamos das deduções que fomos capazes de fazer e nossa vaidade fica gratificada quando ouvimos elogios à nossa inteligência. Gostamos quando as pessoas concordam conosco e nos sentimos inseguros com as divergências.
Acredito que a intromissão dessas emoções - a vaidade e a insegurança - no nosso modo de ser e de pensar se dá desde a infância. As crianças percebem logo que são admiradas por suas observações originais. Ficam orgulhosas com isso e tratam de se exercitar nesta área que poderá ser sua principal forma de chamar a atenção. Além disso, pessoas inteligentes tendem a confiar cada vez mais em suas conclusões.
Tudo é faca de dois gumes. Ter uma boa inteligência, é, óbvio, uma grande vantagem. Porém, na medida em que a criança - e depois o adolescente e o adulto - vai confiando muito no seu cérebro, passa a não ficar muito atenta ao modo de pensar e às conclusões das outras pessoas. A partir daí as coisas se complicam bastante, pois vai se desenvolvendo uma atitude de crescente desprezo pelo que se ouve. Essas pessoas, que não sou poucas, ornam-se as "donas da verdade", incapazes de prestar atenção nos argumentos dos outros e apenas os ouvem para encontrar defeitos na sua argumentação.
Esse tipo de utilização da razão é prejudicial sob todos os pontos de vista. As pessoas que não trocam informações e formas de pensar, além de se tornarem desagradáveis, vão se fechando em seus próprios raciocínios de uma maneira muito perigosa.
Se uma pessoa deixar de ter o espírito (alma) "poroso", permanentemente permeável às trocas com os outros, ela tendera pra um tipo de comportamento que tenho chamado de autismo intelectual. O termo autismo é usado para aqueles doentes mentais de certa gravidade, que não estabelecem elos emocionais com o meio em que vivem. O autista intelectual não está disposto a ouvir e a refletir sobre o que pensam os outros: além de querer fazer suas idéias prevalecer sempre. Tal agressividade denuncia que alguma coisa não vai tão bem no mundo íntimo dessas pessoas aparentemente tão fortes e auto-suficientes. A verdade é que são, com frequência, portadoras de grandes inseguranças e passaram a usar sua eventual competência intelectual para compensar suas fraquezas. Acabam numa situação bastante complicada, uma vez que essa eventual superioridade intelectual não irá jamais resolver seus sentimentos de inferioridade em outras áreas. Além do mais, acabam por fazer mau uso da sua razão. Não conseguem fazer outra coisa senão ficar patinando e derrapando em suas próprias idéias. E o pior é que, por falta de renovação, as idéias tornam-se obsoletas. São essas as criaturas que ficam velhas precocemente, pois o mais visível sinal de envelhecimento e exatamente a perda da elasticidade no processo de pensar sobre a vida. As pessoas que não trocam informações com os outros e se fecham em seus próprios raciocínios envelhecem cedo.
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